Quantas vezes você já tentou conter um ataque de raiva ou fazer cessarem as lágrimas do seu filho com simples frases?

Embora a intenção seja legítima – afinal, quem gosta de ver uma criança sofrer? – essa postura desperdiça a oportunidade de ensinar seu filho a lidar com as próprias emoções e, consequentemente, de aprender um bocado sobre si mesmo.

Reconhecer os sentimentos que nos afligem e encontrar formas saudáveis de expressá-los são a base da alfabetização emocional, um conceito formulado na década de 1990, época em que surgiram as primeiras pesquisas neurocientíficas para entender como o cérebro humano processa as emoções e os pensamentos. Essa ideia vem ganhando muita força.

A alfabetização emocional parte do princípio que, assim como é possível aprender a reconhecer as letras por sua grafia e associá-las a um fonema, os sentimentos também podem ser identificados e atrelados a determinados comportamentos.

Basta saber interpretar as reações que as emoções provocam em nós: lágrimas de tristeza, sorriso largo de alegria, mãos inquietas de ansiedade, a voz que se eleva na hora da raiva. Nossas expressões faciais, gestos, tom de voz e as palavras que usamos refletem o que sentimos.

Mas a alfabetização emocional não se limita a decifrar esses sinais. O conceito inclui saber comunicar os próprios sentimentos de forma adequada e produtiva, perceber que as emoções influenciam as nossas decisões diárias e é importante refletir constantemente sobre como nos sentimos em diferentes situações.

Ao adquirir esse controle sobre as emoções, podemos tomar decisões mais saudáveis e conscientes, sem agir por impulso.

Toda vez que uma circunstância desperta a sua raiva e você responde a esse sentimento agressivo com outra agressão, perde o controle das suas emoções.

Com a alfabetização emocional, que leva à educação dos sentimentos, a criança aprende a relevar, começa a pensar que a pessoa que lhe ofendeu talvez não esteja em um bom momento e adquire o controle de suas reações.

Em longo prazo, a alfabetização emocional pode trazer ao seu filho o que se chama de Inteligência Emocional, que nada mais é do que a habilidade de lidar com seus próprios sentimentos e com os de outras pessoas.

Essa capacidade tem sido cada vez mais valorizada tanto no mercado de trabalho como na própria vida escolar.

Uma pesquisa feita pelas Universidades Penn State e Duke, encontrou uma conexão entre as habilidades socioemocionais durante a infância e o sucesso na vida adulta.

Os pesquisadores acompanharam 800 indivíduos, primeiro durante a educação infantil, depois aos 25 anos.

A avaliação mostrou que aqueles que, quando criança, já demonstravam mais disposição para ajudar e compartilhar, na vida adulta tinham mais chances de ter se formado e conquistado um emprego em período integral. Em compensação, aqueles que, quando pequenos, apresentavam dificuldades na resolução de conflitos, em dividir e em ouvir outras crianças tinham na vida adulta, menor probabilidade de ter concluído a faculdade ou o colégio, tinham maior propensão ao abuso de substâncias ilícitas e a ter problemas com a Justiça.

Esse e vários outros estudos comprovam o que professores e empregadores já percebem na prática: não basta ter conhecimento técnico, bom raciocínio e uma formação sólida. No mundo de hoje é imprescindível saber se relacionar com as pessoas.

Talvez, o maior ganho que a alfabetização emocional pode proporcionar seja o crescimento do seu filho enquanto ser humano.

A criança que entende melhor sobre o seu próprio mundo emocional tem uma chance maior de ser ela mesma. E isso tem várias implicações positivas.

Crianças que dominam seus sentimentos tendem a reagir menos intensamente às frustrações, desenvolvem uma autoestima maior, entendem melhor os comportamentos das outras crianças, se comunicam com mais clareza, estabelecem relações mais amorosas e colaboram mais com as pessoas à sua volta.

Bom, a alfabetização emocional também atua na promoção da saúde mental, um termo usado para descrever o estado de bem-estar no qual um indivíduo consegue se desenvolver de maneira plena, utilizando suas próprias capacidades.

A educação das emoções serve indiretamente como ferramenta para evitar comportamentos autodestrutivos, porque torna o indivíduo mais forte e equilibrado para fazer boas escolhas.

Muitas vezes, para proteger a criança do sofrimento, os pais tentam minimizar aquilo que ela está sentindo. Mas isso não funciona. A criança só entende que está sendo compreendida se percebe que tem espaço para encarar o que sente.

Uma coisa é identificar o que gerou o sentimento, outra é o sentimento em si. Se ela quebrou um brinquedo, pode ficar profundamente triste. Um adulto pode olhar e pensar: “É só um brinquedo’, mas para a criança, isso significa muito.

Por isso, os pais precisam fazer um exercício de separar a causa, do sentimento em si.

Lembre-se de que todo sentimento oferece ao seu filho a chance de aprender algo, mesmo que nem sempre pareça positivo à primeira vista (e que você fique com o coração apertado).

A própria neurociência não coloca mais emoções, como raiva e medo sob o rótulo de “destrutivas”. Elas são chamadas agora de “emoções defensivas”, por serem desencadeadas como um mecanismo de autopreservação frente a uma situação adversa. Mesmo provocando certo mal-estar, elas podem ensinar muito pra criança.

Coragem sem medo, vira imprudência. Assim como tranquilidade sem uma pitada de raiva pode se transformar em passividade.
E aprender a lidar com os próprios sentimentos não é uma lição exclusiva para os pequenos: precisa também fazer parte do processo de amadurecimento dos pais.

Da mesma maneira que não é recomendado minimizar os sentimentos das crianças, não dá para negar os nossos. É fundamental que o pai e a mãe se sintam seres humanos e não super-heróis. Isso quer dizer que esse movimento de reconhecimento das emoções deve acontecer nos dois sentidos: dos pais para a criança, mas também dela para aos pais.

Alfabetização emocional é também aplicar esse conhecimento sobre os sentimentos para melhorar a relação com o próximo. É assim que seu filho vai começar a desenvolver a empatia.

Demonstre que você tem dias ruins, perde a paciência, tem vontade de gritar, mas que é possível se acalmar e assumir o controle das emoções, em vez de ser controlado por elas.

Cabeça x Coração

Esse embate entre cabeça e coração, razão e emoção, é uma questão que seu filho terá que aprender a balancear pelo resto da vida. Mas com a sua ajuda, ele pode estar mais bem preparado e confiante. Afinal, não há como controlar os sentimentos, mas é possível encontrar uma forma mais leve de lidar com eles.

Espero que esse artigo enriqueça ainda mais a sua vida!

Um beijo!!!

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2 Comentários

  1. Bernardo O pai disse:

    Muito bom.E isto mesmo Parabens.